MOBILIZAÇÃO, MOTOR PROPULSOR DA INQUIETUDE
“Mobilizar: Verbo transitivo
e pronominal, causar a mobilização de algo, alguém ou de si próprio,
movimentar-se, mover-se. Pôr-se em ação conjunta com pessoas para uma tarefa,
campanha. Conclamar pessoas a participarem de uma atividade social, política ou
de outra natureza, insuflando-lhes entusiasmo, vontade etc.” – Conceito informado pelo curso virtual
Educação pela Comunicação da Cipó Comunicação Interativa.
Muitos já devem ter lido ou
ouvido sobre a fábula do Beija-Flor e o Incêndio na Floresta e sabem da célebre
resposta que ele dá quando é indagado sobre o que estava fazendo para apagar o
fogo (carregava gotas de água do lago para apagar um enorme incêndio) “Estou
fazendo minha parte”. Existem várias temáticas morais para essa belíssima
representação da vida. Só que para esse texto, vou olhar pelo ângulo da
inquietude. Pôr sentir-se incomodado
com o fogo que queimava toda à floresta o Beija-Flor percorrer, por várias
vezes, o caminho que ligava o fogo ao lago, onde ele coletava com seu pequeno
bico gotas de água para amansar o incêndio. O personagem principal dessa
estória estava inquieto... Inconformado com a atual situação degradante do seu
habitat.
Os incomodados mudam!
O Beija-Flor mobilizou... Fez algo acontecer e ainda chamou atenção de outros
animais por sua atitude. Conhecemos o ditado que diz: ”Os incomodados que se
mudem”. No entanto, vejo esse ditado de forma diferente. Acho que quem
realmente está incomodado, não se muda, entretanto muda algo, alguém ou a si
próprio. Se mudar de lugar não vai mudar nada! Os outros animais da fábula
estavam fazendo isso – fugindo de cena.
É fácil fugir e não trazer responsabilidades para si. Essa atitude não apagou o
fogo. Nem as gotículas de água que o Beija-Flor carregava, sabemos disso! Mas
certa frase define bem o que quero dizer “O que eu faço é uma gota no meio
de um oceano. Mas, sem ela, o oceano será menor" - (Madre
Teresa de Calcutá). Sua parte é uma partícula de um todo. É preciso
inquietar-se para fazer algo acontecer!
IMPULSIONADOS PELA INQUIETUDE
Já pensou se a estória
trágica do Incêndio na Floresta fosse diferente? Se todos os animais
resolvessem inquietar-se e preocupar-se com fogo e não com suas
individualidades egocêntricas? A moral seria diferente, correto? Todos estariam
voltados para um mesmo objetivo e propósito: APAGAR O FOGO!
Faltou organização coletiva
de um bem em comum. “... a mobilização
social também é entendida como a organização da ação e dos pensamentos de um
grupo de pessoas que deseja alcançar um determinado objetivo em comum - seja
colaborar com a melhoria da educação pública ou com os cuidados com meio
ambiente”, Módulo IV do curso On-Line, Educação pela Comunicação, promovido
pela Cipó Comunicação Interativa.
É sempre bem vinda a teórica
sobre mobilização, mas nada vale se a prática não for colocada em ação. Uma
organização da ação e do pensamento não consiste apenas em conceitos lógicos e
racionais sobre mobilizar, mas tão importante quanto explicar a importância de
mover-se é mexer com a emoção das pessoas. Pessoas precisam envolver-se
espiritualmente com a ação mobilizadora. Em outras palavras, é preciso promover
o desejo guardado dentro das pessoas. A questão de o Beija-Flor ter feito sua
parte vai muito além dele querer apagar somente um incêndio; o que essa fábula
traz, olhando pelos olhos da mobilização, é que um animal tão pequeno com bico
tão fino e curto aqueceu o “fogo” dentro das consciências alheias que
perpassavam por sua atitude. O Beija-Flor incendiou a alma mobilizadora
daqueles animais... Ele incomodou! Tanto que outros vieram lhe perguntar “O que
você está fazendo?”
É preciso extrair essa
pergunta das pessoas: “O que é isso?”. Se uma mobilização (seja de si próprio
ou em prol de algo) não surtir efeito no outro, se ela não provocar a
inquietude de outras pessoas em torno de um mesmo objetivo, ela tem seus dias
contados sem resultados.
O QUE FAZER PARA PROPULSAR UMA
MOBILIZAÇÃO? COMO EXTRAIR DAS PESSOAS O DESEJO DE JUNTAR-SE EM PROL DE ALGO?
A melhor forma de construir
esse desejo interno de cada indivíduo é criar um “imaginário convocante” que
faça sentido para todos os envolvidos e desperte paixões entre os integrantes.
O que seria isso? Identificar uma necessidade que clame por transformação e
reunir todos em torno de seu desejo de mudar isso, gerando ações contínuas e
duradouras. “Mobilizar é convocar
vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um
sentido também compartilhados” – (Bernardo Toro).
No caso do nosso personagem
em questão, o Beija-Flor, ele construiu esse “imaginário convocante” com sua
própria atitude de começar apagar o fogo pelas gotas de água que carregava em
seu pequeno bico. Nem sempre (e essa afirmação soa um tanto quanto
contraditória com a temática geral desse texto) uma convocação precisa ser alarmante...
Com carro de som, chamadas virais pelas redes sociais, através da mídia
nacional, nem tão pouco com voz. Mas uma convocação pode ser feita sim com
atitudes e sem nenhuma palavra falada pela boca – desculpe-me pela redundância, mas torna-se pertinente assim o descrever.
Quando digo que um planejamento para promover inquietações alheias tem que
acontecer, não digo, em nenhum momento, que isso precisa ser feito com barulhos
e uma chamada oficial. O Beija-Flor aguçou a atenção de outros bichos sem dá
uma palavra. Ele só respondeu a uma pergunta que o fizeram.
Mexer com a emoção das
pessoas, fazê-las refletir sobre um motivo de mobilizar, instigar o desejo de
mudança, provocar a inquietude dos acomodados, motorizar e aquecer a mobilidade
de um coletivo é sempre válido, todavia não valerá de nada se todos não agirem
em prol de um mesmo objetivo. Na maioria das histórias sobre o Beija-Flor na
Floresta o fogo continua, as atitudes se apagam e só um trabalha em prol de um
contexto geral.
Na estória do Beija-Flor
vejo também, por incrível que pareça, uma comodidade dessa pequena ave ou
apenas um único foco de seu exercício: APAGAR O FOGO. Será que esse fogo não
poderia ser apagado se ele convencesse outros animais a lhe ajudar? Será que
lhe faltou o coletivo? Será que se ao invés de gotículas de água para apagar
tão grande fogo, ele promovesse, com seus amigos, o real desejo de não ter sua
casa queimada fosse uma melhor solução? Afinal o fogo não foi apagado, né? Tudo
bem fazer nossa parte... mas se pudermos transformar nossa parte em um oceano
de anseios, talvez possamos colher mais resultados. Longe de mim destruir a
cândida estória do Beija-Flor (até porque
alguém precisa fazer alguma coisa, né?) Porém trago essa reflexão para nós:
MOBILIZAR PODE FAZER MAIS EFEITO QUE TRABALHAR SOZINHO!
OS INCOMODADOS MUDAM, MAS SÓ QUANDO
REALMENTE QUEREM
Em uma pesquisa pela
internet sobre as diversas interpretações dessa fábula, encontrei uma que o
Beija-Flor convence os outros animais e todos juntos conseguem apagar o fogo na
floresta. Provavelmente o autor dessa versão estava pensando (mesmo que “inconscientemente”) sobre
mobilização. Nessa versão a ave consegue mobilizar o desejo de mudança que
existe dentro dos animais. Qual foi o produto propulsor dessa transformação? O
ENGAJAMENTO! O Beija-Flor conseguiu acordos em comuns; os animais alistaram-se
para o serviço. Eles sentiram-se incomodados e quiseram uma mudança verdadeira
e rápida. Para uma mobilização é preciso haver comunicação (mesmo não verbal), acordos, princípios,
desacordos, debate, consenso, interação e acima de tudo, REAL DESEJO DE MUDAR
PARA O MELHOR DE TODOS.
Por: Dinny Ventura